Marisa Monte faz temporada de 4 shows na capital mineira.

Foto: Milena Félix

O furor provocado pela vinda da cantora Marisa Monte a Belo Horizonte pode ser aferido pela necessidade de uma sessão extra, no domingo (25) – e com ingressos esgotados, a exemplo dos demais dias da temporada local da turnê "Verdade, Uma Ilusão", que aporta no palco do Grande Teatro do Palácio das Artes a partir desta quinta-feira (22).

A respeito do título da empreitada, a compositora admite que propositadamente desmente o nome do disco ("O Que Você Quer Saber de Verdade"). "Por este ser muito assertivo, resolvemos propor essa contradição, pois ela (a verdade) só existe quando não tem ninguém vendo, no íntimo. Se houver alguém olhando, passa a ser versão", brinca.

Parcerias

Apesar de também ser retrospectivo dos 25 anos de carreira da intérprete e compositora descoberta por Nelson Motta quando estudava música lírica na Itália, o show vai priorizar, no repertório, as canções do mais recente álbum.

Sobre as parcerias e músicas escolhidas, que têm como tema especialmente amor e tempo, ela afirma: "Jorge Benjor é um gênio, sou fã da sua originalidade. São poucos como ele, como João Gilberto, que inventam um estilo, firmam uma marca com tamanha propriedade". O fato de o compositor de "País Tropical" ser "sinônimo de brasilidade" também pesou na inserção ao repertório.

Além da canção "Descalço no Parque", de Benjor, consta, no roteiro do show, o fruto da união inédita com o guitarrista do Los Hermanos, Rodrigo Amarante. "Já nos conhecíamos do Rio, mas nunca tínhamos feito nada juntos".

O acaso os reuniu em Los Angeles, nas gravações da coletânea "Red Hot + Rio 2" (desta vez, em homenagem à Tropicália e, como de praxe, visando arrecadar fundos a instituições que tratam portadores do vírus da Aids no mundo), e ali nasceram os primeiros movimentos de "O Que Se Quer". A finalização da parceria aconteceu via internet, "aproveitando as benesses da tecnologia".

Simples

A influência de Roberto Carlos em músicas como "Depois", presente no show e no disco, é recebida por Marisa Monte com um "talvez" – afinal esta relação é perceptível em vários momentos de sua obra. "Admiro a simplicidade do Roberto como conceito de valor".

A Velha Guarda da Portela (com a qual participou de documentário) e seus principais compositores também são dados como exemplo.

Cássia Eller, tango e Anderson Silva em show

O novo show da cantora reserva uma surpresa (despida do sentido de desconhecimento) para os que asseguraram ingresso: o fato de Marisa Monte cantar, pela primeira vez, em show, "E.C.T", sua parceria com Carlinhos Brown e Nando Reis consagrada na voz "de trovão" (como diria Rita Lee) da propagadora dos versos, Cássia Eller.

A recepção do público e crítica a esta escolha em particular vem sendo mais do que positiva. E não, Marisa não se intimida ante a prováveis comparações com Eller.

"Quando o intérprete registra uma canção com o vigor e a coragem da Cássia, se torna dono e, de alguma maneira, toma posse dela. Irei fornecer a minha versão dos fatos, nada mais. Como a verdade, uma ilusão", diverte-se.

Assim, escapando de competições ou disputas, a cantora define sua escolha de repertório como "uma oportunidade de me aproximar novamente da Cássia e expor, para as pessoas, a nossa relação, contar um pouco do nosso convívio".

Tango

"Lencinho Querido", tango de Frederico Esposito e com versão em português de Haroldo Barbosa, lançado no Brasil em 1956 por Dalva de Oliveira, por sua vez, colou-se ao projeto "de maneira única", como diz Marisa.

A canção mais destoante do tom pretendido para o disco caiu nos braços e nas graças de Marisa Monte quando ela foi chamada para a inauguração do Teatro Bradesco, em São Paulo – o qual faz questão de ressaltar como "belíssimo".

Foi ali que ela conheceu o produtor e cantor da terra de Evita, Gustavo Santaolalla. O que acendeu, na voz por trás do sucesso de "Amor, I Love You", a vontade de cantar uma música portenha. "Mas em língua nativa", desenha.

Anderson Silva

A fantasia promete tomar os contornos da apresentação, com direito a projeções e quadros, deixando a música infiltrar-se por entre contribuições das artes plásticas, da dança e da luta.

A presença de Anderson Silva no clipe de "Ainda Bem" foi, segundo Marisa, "ideia minha". "Meu marido é fã (do UFC) e o Anderson (campeão peso médio) é um ídolo brasileiro, representante da força". A união de uma aparente brutalidade ("inexistente, pois Anderson é um amor") à delicadeza da música e do feminino foi o que estimulou a cantora: "Sabia que seria surpreendente".

Fonte: Hoje em dia

Allan Mello
Equipe Marisa Monte e Cia