sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Após hiato, Marisa Monte diz: "precisava desse tempo de vida"


Marcelo Costa
Direto de São Paulo
Marisa Monte está de volta com O Que Você Quer Saber de Verdade. É seu primeiro lançamento após cinco anos sem um álbum de inéditas (o intervalo anterior, entre Memórias, Crônicas e Declarações de Amor e os dois discos lançados em 2006 - Infinito Particular e Universo ao Meu Redor - havia sido de seis anos). O que não quer dizer que a cantora deixou de trabalhar com música neste tempo. "Fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme O Mistério do Samba", enumera a cantora em entrevista exclusiva ao Terra. "Depois, entrei num momento de silêncio", completa.
O mundo mudou um bocado nestes cinco anos em que Marisa ficou sem gravar. Novos artistas surgiram (estrelas pop atuais como, por exemplo, Restart, Luan Santana e Paula Fernandes não existiam para a grande massa em 2006), o modo de comercialização de música tomou novos rumos (O Que Você Quer Saber de Verdade foi lançado com exclusividade no Sonora) e a web ganhou tamanha força na divulgação de novos discos que, não só Marisa, como Chico Buarque gravaram vídeos especiais para a nova mídia estreitando a distância com o público.

Em um momento que boa parte da nova cena músical brasileira usa o samba como ponto de partida para o futuro, algo que Marisa Monte havia resgatado em dois álbuns clássicos de sua discografia do começo dos anos 90 (Mais, de 1991, e principalmente Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, de 1994), a cantora deixa de lado as invenções e lança um álbum feliz e reverente ao passado.
Há baladas como Depois, com um órgão que dá à melodia uma tonalidade sessentista, Amar Alguém, faixa delicada com destaque para piano e sanfona e Aquela Velha Canção, com o arranjo de cordas valorizando o tom brega da composição. Há forrós como Hoje Eu Não Saio Não e O Que Se Quer, uma parceria de Marisa com Rodrigo Amarante, que divide os vocais. E há latinidade em Ainda Bem, primeira faixa de trabalho e Lencinho Querido, tango gravado por Dalva de Oliveira em 1956.
"Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó", conta Marisa sobre o tango, que ganhou arranjo de Gustavo Mozzi, da trupe argentina Cafe de los Maestros.
O repertório de Jorge Ben voltou a inspirar a cantora. "Eu adoro Descalço no Parque. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos", explica Marisa, que já havia gravado anteriormente outras duas canções do compositor: Balança Pema e Cinco Minutos.
Além de várias parcerias com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, O Que Você Quer Saber de Verdade conta com a participação de integrantes da Nação Zumbi (Dengue, Lúcio Maia e Pupillo), e, ainda, Gustavo Santaolalla, Daniel Jobim, Jesse Harris, Money Mark (do grupo Beastie Boys) e do acordeonista Waldonys. E Dadi, baixista dos Novos Baianos, d'A Cor do Som e do Barão Vermelho além de músico de apoio dos Tribalistas, Rita Lee, Caetano Veloso, Jorge Benjor, Moraes Moreira e muitos outros, que assina a produção do álbum junto com Marisa Monte.
Para falar um pouco sobre o novo álbum, escolha de repertório, versões e a nova cena música brasileira, Marisa Monte atendeu ao Terra e respondeu por e-mail a 10 perguntas.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Terra - Cinco anos sem lançar um novo disco é um bom tempo. Foi algo planejado ou o tempo foi passando, outros projetos foram surgindo (como o seu filme) e quando você se deu conta já tinha se passado cinco anos?
Marisa Monte -
Foi um tempo natural... Após o lançamento dos últimos CDs, fiz uma grande turnê, um DVD com registro de um ano de trabalho e produzi o filme O Mistério do Samba, sobre a Velha Guarda. Depois, entrei num momento de silêncio. Eu precisava desse tempo de vida para encontrar os parceiros, assistir a shows dos outros e alimentar as relações que resultaram nesse novo trabalho.

Terra - O Que Você Quer Saber de Verdade foi lançado simultaneamente em 30 países. E a turnê? Como está o planejamento? Será tão extensa quanto a Infinito ao Meu Redor?
Marisa Monte -
Eu estou muito mergulhada no lançamento do disco nesse momento, então estou deixando pra pensar em show um pouco mais para frente. A gente ainda não tem nada marcado.

Terra - O disco novo traz 14 canções. Você já entra em estúdio com o track list do álbum definido, ou leva algumas coisas a mais no bolso caso determinado arranjo não funcione?
Marisa Monte -
Eu geralmente gravo algumas a mais, mas nem todas vão até as mixagens. Naturalmente, acontece um equilíbrio entre as canções e algumas ficam pelo caminho.

Terra - Descalço no Parque é a terceira música de Jorge Ben que você regrava em um disco. Imagino que escolher uma música dele seja algo extremamente difícil, pois há tanta coisa... Como se deu a escolha nesse caso?
Marisa Monte -
Eu adoro Descalço no Parque. É uma música que eu tocava nos quartos de hotel, nos camarins e até em alguns shows. Normalmente é assim que elas param nos discos.

Terra - E Lencinho Querido (El Pañuelito)? Dalva de Oliveira é um mito da música brasileira, mas pouca gente fala dela hoje em dia.
Marisa Monte -
Eu conheci a música quando era adolescente, ouvindo os discos da minha avó. Na época, era muito difícil ter acesso a essas músicas, mas eu sempre gostei de pesquisar o repertório da música tradicional brasileira.

Terra - Essa versão foi gravada em Buenos Aires? Como foi o clima?
Marisa Monte -
Fiz uma gravação das bases aqui em casa, só eu e o Dadi. Mandamos para o maestro Gustavo Mozzi, do Cafe de los Maestros, que fez o arranjo e me mandou de volta a gravação do ensaio deles, que era lindo. Quando encontrei o Gustavo Santolalla, em Los Angeles, falei pra ele que eu queria que a música fizesse parte do novo disco. Ele nos enviou o multitrack da sessão, nós mixamos, e é essa gravação que está no disco.
 
Terra - Amar alguém só pode fazer bem?
Marisa Monte -
Sim, o amor é uma forma de inteligência.

Terra - Como se deu a aproximação com Rodrigo Amarante? Você ouvia ou ouve Los Hermanos?
Marisa Monte -
Sim, eu ouço Los Hermanos. Encontrei o Rodrigo Amarante em Los Angeles, quando a gente gravou uma música pra o Red Hot + Rio 2. Nunca havíamos feito nada juntos, mas existia uma vontade recíproca... Começamos a fazer O Que Se Quer nesse encontro em LA e terminamos algum tempo depois no Rio.

Terra - E com o pessoal da Nação Zumbi, que participa de Ainda Bem, como foi o contato? Eles também estão para lançar material novo.
Marisa Monte -
Eles são incríveis, sou muito fã deles. Eu já tinha gravado com o Pupillo antes, que é um sonho de músico. Eu estava procurando um som de banda e eles tocam juntos há muito tempo, têm uma linguagem própria e uma sonoridade única. Achei que eles poderiam trazer isto para as canções.

Terra - Há uma nova geração independente (já nem tão nova assim) revalorizando o samba e a MPB, algo que você já fazia em Mais (1991) e Verde, Anil... (1994). Você já compôs com Lucas Santanna, por exemplo, mas chegou a ouvir outros artistas? Gente como Romulo Fróes, Wado, Cidadão Instigado, Junio Barreto, Barbara Eugênia...

Marisa Monte -
Sim, conheço o trabalho do Romulo há um bom tempo. O Arnaldo me apresentou há alguns anos, gosto muito. Também conheço bem o último CD do Wado e gosto muito da onda do Catatau, do Cidadão Instigado... Arnaldo também já me falou da Bárbara Eugênia, estou curiosa. Junio Barreto ainda não escutei...

Fonte - Terra 

2 comentários :

LINO MOURAIS disse...

Gostoso demais, Marisa na área! ^^ Beijos

Anônimo disse...

Parecia que Marisa Monte tinha se aposentado. Jovem e cheia da grana iguala Ronaldo.