terça-feira, 10 de junho de 2014

Marisa Monte para Revista Lufthansa - Tradução

Com Carinho a amiga e fã Andréa Kopp,  fez a tradução da entrevista que Marisa deu a revista Lufthansa. 

Recado da Andrea : 

Lembro que eu  não sou tradutora, então fiz o melhor possível para traduzir o idioma dando sentido ao que Marisa realmente falou..... Muita responsabilidade...
É uma tradução livre e espero que eu tenha conseguido dar o mesmo sentido com todo o respeito a Diva Marisa Monte 




Entrevista : 

Marisa Monte é um das maiores estrelas da MPB. Aos 19 anos fez seu primeiro Show.
Já ganhou várias vezes o prêmio Grammy e é uma patriota fervorosa.
Nada nesse mundo a faria mudar-se do Rio de Janeiro – e ela mostra porque sua cidade é tão atraente.

Uma das cantoras mais importantes da Música Popular Brasileira, nasceu em 1967 no Rio de Janeiro.
Através de seu pai, Diretor artístico de uma escola de samba, teve contato com a música desde cedo. Aos 14 anos, começou aulas particulares de canto e aos 19 foi para Roma, onde iniciou sua formação
em Canto Classico.
O produtor Nelson Motta descobriu seu talento e organizou sua primeira turne no Brasil.O grande sucesso da mistura de Rock, Samba, Jazz e Bossa Nova , resultou num show na TV e em seu primeiro disco ao vivo “MM” em 1989, e também seu primeiro grande Hit, a musica “Bem Que se Quis”.Desde meados dos anos 90, Marisa tem grandes parcerias com musicos de Nova Iorque e de varios outros Paises.
Monte está em seu segundo casamento com Diogo Pires Gonçalves e tem dois filhos, Mano (11) e Helena (5).


Uma das maiores estrelas da MPB, Marisa ganhou três vezes o Grammy Latino; trabalha com grandes nomes, como Laurie Anderson, Philip Glass e David Byrne.
Sua casa é sagrada. Nada, nem ninguém faria essa carioca de 46 anos se mudar do Rio de Janeiro.
Quem visita com ela seus lugares favoritos, entende todos os seus motivos.


Ela espera no cais do pequeno porto de pesca da Urca. Aqui quase não passam carros e é incrivelmente tranquilo.
Pequenos barcos coloridos balançam preguiçosamente na água.

Nosso encontro com Marisa eh num cenario incomum, nesta Metropole de 6,5 milhões de habitantes, normalmente ensurdecedora e com um tráfego sempre entupido.
A esquerda, a estátua de Cristo de mais de 30 metros com seus braços abertos e a direita, as paredes ingrimes do Pão de Açúcar.
Um lugar mágico onde o Rio parece ser uma cidadezinha de sonhos.
"Eu cresci aqui, com a vista desses nossos dois Simbolos”, diz Marisa Monte, apontando
para o segundo andar de um prédio moderno.
"Os pescadores do porto eram o público quando eu tive minhas primeiras aulas de canto na sala de casa”.

Foi deles que eu recebi meus primeiros aplausos.
Às vezes, eles me acompanhavam no cavaquinho "

Aqui tambem começou a história do Rio, ela explica.
Os portugueses avistaram a baía em 1. de Janeiro de 1502 e pensaram que era um grande rio.
"É por isso que o Rio de Janeiro tem esse nome :Rio de Janeiro”

 "Eu tive uma infância muito gostosa", diz Monte,"  
Nos finais de semana iamos velejar ou eu andava de bicicleta de
uma lojinha pra outra - muitas vezes ganhava algum doce de graça!  

A maioria dos turistas só vêm a Urca por causa do "Bondinho"- o que eh um pecado, segundo ela -
mas depois acabam conhecendo as outras coisas.
“Santa Teresa tem uma das arquiteturas mais bonitas do Rio”
Ela recomenda visitar o Bar Urca ao pôr do sol, quando os cariocas se
encontram pra um aperitivo no porto, com a vista do Cristo e da Fortaleza
de São João, uma base militar do Século XVI.
La tambem fica a “Praia Vermelha”, dica secreta da Marisa.


As praias mais famosas do Rio merecem uma visita, principalmente na extremidade norte, o Leme, no início de Copacabana, e no Arpoador, próximo a Ipanema: "Por la não tem o incomodo do barulho dos carros e podemos ver os surfistas pegando ondas. "

Nossa próxima parada é o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o
MAM.
Aberto em 1959, é considerado um marco da arquitetura moderna.
O MAM é o lar de uma das maiores coleções de arte contemporânea brasileira.
"Aqui expõem grandes artistas como Adriana Varejão e Luiz Zerbini ", explica Marisa.

Artes plásticas sao uma grande fonte de inspiração.
Assim como eu misturo varios generos musicais, vejo o show e a cenografia de palco como uma
obra de arte conjunta, por isso gosto de trabalhar com artistas plásticos.

O que eu mais admiro neles é a capacidade de pensar conceitualmente para dar formas as idéias – nisso eles são melhores do que nós, músicos.

2
Nos últimos 27 anos Marisa Monte tornou-se uma apreciadora de artes.
"Sempre que tenho tempo, vou a escola de artes do Parque Lage espiar os alunos desenhando e pintando", diz ela.
Ao lado, no Jardim Botânico, ela gosta de ler ou apenas observar os macacos brincando nas copas das árvores.
Macaco no meioda cidade? "Sim", diz Marisa, rindo...
"Mas eles também podem ser muito irritantes!
Uma vez eles roubaram tantas telhas de casa, que quando choveu tivemos goteira. Entao de castigo, não ganharam comida nos dias seguintes. "

E falando em “comida”, já estava na hora de almoçar.
Marisa é vegetariana, mas come peixe.
Ela sugere o Aprazível, um restaurante estilo “Bangalô”, que tem como especialidade pratos de todas as regioes do Brasil, alem de muitos classicos da cozinha vegetariana.
O caminho do Jardim Botanico ate Santa Teresa eh longo. A viagem de 10km durou quase duas horas. No lento percurso, Marisa reclama : “A unica coisa que realmente estraga o Rio, é o transito”.
Mas de qualquer maneira, ela prefere mesmo eh ficar em casa.
Durante a Turne, sempre como em restaurantes, entao estando em casa aproveito para cozinhar comidas frescas e rapidas. Fast Food, no bom sentido”.

A viagem até o restaurante vale a pena:
O morro de Santa Teresa seria como o
“Montmartre” (bairro famoso de Paris, que fica no topo de uma colina) do Rio de Janeiro.
Casas coloniais antigas, ruas íngremes e sinuosas onde os bondes amarelos transitam novamente
depois um grave acidente, há quase tres anos.

“Este é uma preciosidade do bairro”, diz Marisa sobre Getulio Damado, que vende arte
reciclada num velho vagão de bonde.
Marisa desce rapidamente para cumprimentar o velho amigo com um beijo no rosto.
“Esse é o melhor endereco para se comprar souvenirs”, recomenda.

Após a almoço tardio, Marisa precisa ir buscar os filhos na escola.
Dedicar tempo para a familia eh algo sagrado para ela.
E onde ela vai para curtir uma noite sem criancas ? “Clube dos Democraticos”, eh um dos seus lugares favoritos. Um salão de bailesantigo, para pessoas de todas as idades –um ambiente tão charmoso e com tanta alegria, que por si só é motivo suficiente para Marisa querer viver aqui – e em nenhum outro lugar - para sempre.



3
Samba, Rock, Opera e Jazz - Marisa Monte não tem fronteiras musicais.
Uma das vozes mais conhecidas do Brasil fala sobre a arte de nadar contra a corrente,
sobre manter-se fiel a si mesma – e explica por que o Rio será sempre a sua casa

Sua carreira começou furiosamente: Sem disco, sem musicas tocadas em radio,
você com 19 anos já lotava as maiores casas de shows do Brasil.
Como isso foi possível?

Foi um mistério, e ainda é.

Algumas explicações você tem, com certeza?
Sempre tive pessoas que me apoiaram.
Meu produtor Nelson Motta foi o primeiro, que não somente acreditou em mim, mas mais importante que isso, me ensinou a confiar em mim mesma e nas minhas intuicoes.
Talvez tambem por isso eu não tenha focado na fama e sim na arte.
Comecei com a musica aos 14 anos, mas sem a idéia obstinada de fazer disso minha profissão.
Eu também poderia ser muito feliz com outro trabalho criativo, seja pintando ou escrevendo. Diz a lenda que Motta te ouviu cantando nas ruas de Roma. Foi isso mesmo ?
(Risos)
Não. Nós nos conhecemos em 1987 em um pequeno show em
Veneza. Naquela época, eu estava na Itália estudando Opera por um ano.
Motta era um conhecido da minha família. Quando eu voltei para o Brasil, ele me encorajou a comecar minha primeira turnê.
Ele era um produtor de sucesso e conhecia as pessoas e lugares certos.
Mas acredito que a Midia em si não foi o mais importante, mas sim o publico que comentava sobre mim com seus amigos, no melhor estilo propaganda boca a boca.
O que eu fazia naquela epoca, musica tradicional brasileira, mesclada a Rock e Pop, era uma grande novidade.Por que você foi estudar canto lírico em Roma?
Eu sempre ouvi Maria Callas, alem de Samba, Reggae e Rock. Para mim, isso não era uma contradição.
Meus pais nos deram a oportunidade de estudar um ano no exterior para
aprender o que quisessemos. E eu escolhi Opera. Também porque tinha interesse em aprender a teoria da música clássica.

Parece que o entusiasmo não durou muito ?
Somente na Europa me dei conta do quão forte é a minha ligação com o Brasil,
a música e tambem ao nosso idioma. O Portugues eh tao lindo, tao sutil...
E eu queria contribuir com o Samba, à essa nossa tradição.
E isto numa epoca em que a maioria das pessoas da minha geração fazia Rock.
Eutambem, mas não exclusivamente.
Sempre fui um pouco diferente dos meus amigos.



4
Para ser diferente e já saber o que quer da vida ainda sendo adolescente, é preciso uma boa dose de auto-confiança. De onde veio a sua ?



Meus pais educaram as três filhas para que fossemos mulheres independentes
Nós brincavamos tanto na rua, como com bonecas.
E eu crio meu filho da mesma maneira; ensinando que ele não deve depender das mulheres.
Então ele costura, arruma a sua cama e limpa a sua próprio quarto.
Esses dias ele quis aprender a passar roupa – e por iniciativa propria !Você costumava jogar bola na rua?
Não,a gente andava muito de bicicleta.
Nos nos viamos como “pequenas mulheres”. A gente cozinhava, costurava, etc.mas
nos sentiamos de igual pra igual com os meninos: Eu te ajudo, voce me ajuda.
Cada um dá ao outro um pouco do que tem.
Isto para mim se chama “Emancipação”.

Seu primeiro marido era 16 anos mais novo que você, seu segundo marido
Diogo, é nove anos mais jovem. Vc prefere homens mais jovens ?


Tambem já me relacionei com pessoas 30 anos mais velhas.
Se fosse possível conviver com pessoas 200 anos mais jovens ou mais velhas, eu seria capaz de me apaixonar mesmo assim.
A idade de uma pessoa não eh uma categoria que determina meus sentimentos.
Aos 20 anos eu já era muito madura. Enquanto as pessoas passavam o dia inteiro na praia, eu já estava trabalhando com Musica.
A minha alma tem hoje 78 anos de idade.

Você eh muito disciplinada?
Eu diria que sou bem organizada.
Disciplina pra mim significa Liberdade.
A liberdade de poder decidir quando voce “tem” que fazer alguma coisa e quando voce pode
deixar de fazer.

Muitos artistas jovens terminam seu sucesso cedo ...
Sim, se não resistirem a grande pressao e acabarem no álcool e drogas.

Talvez porque se sintam nervosos em se apresentar diante de milhares de pessoas.
Vc fica nervosa ?

Aquela tensão eu realmente só sinto se não souber a letra de cor.
E eu estou sempre muito bem preparada quando entro no palco.
Tudo foi ensaiado dezenas de vezes. Para mim, o show eh um momento de grande alegria, quando posso finalmente compartilhar minha musica. Não eh um momento de Stress.
Como você a recarrega as baterias ?
Como eu estou viajo muito, os intervalos podem ser até por dois anos.
Esse eh um tempo que fico mais em casa ou faço pequenos projetos e parcerias com outros artistas. Cuido de mim e da escola de samba mirim que apoio.
Agora em dezembro terminei uma turnê de 18 meses com 120
apresentações..
Agora é um momento maravilhoso onde eu não tenho nenhuma programação e posso me dedicar a toda minha familia.  
Posso me dedicar a cozinhar, a leitura, corte e costura, tricô e me encontrar com os amigos.
Sem essa vida normal, essa “rotina”, eu não conseguiria ser criativa e ainda curtir meu trabalho depois de tantos anos.Você pretende estar nos palcos depois dos 70 anos?
Gosto da ideia... Quando os meus filhos estiverem maiores, tambem terei mais tempo.

S
eus filhos tem   vocação para música?
Meu filho Mano tem onze anos e desistiu das aulas de piano. Ele é mais interessado na area visual. Provavelmente puxou da familia do lado paterno, que pertence a um dos maiores arquitetos do Brasil, Sergio Bernardes. Minha filha Helena tem somente 5 anos, não dá pra prever ainda.

Você trabalhou bastante com grandes nomes da musica nova-iorquina : Laurie Anderson, Lou Reed, Davd Byrne, Philip Glass. Por que voce nunca viveu la  ?

Tenho um apartamento em Nova York e gosto de ir pra lá.
Talvez no ano que vem eu fique por mais tempo, para que meus filhos aprendam Ingles.
Em Nova Iorque eu me sinto tão em casa como no Rio de Janeiro. Em qualquer outro lugar eu logo tenho saudades desse tempo maravilhoso, de escutar o idioma, das praias, do calor humano – e é claro, da nossa Musica.


O que você acha que faz o Samba ser internacionalmente tao atraente,
embora poucas pessoas entendam as letras?

A música eh uma forma de expressão espontânea da alegria e sensualidade, e por isso é entendida - mesmo intuitivamente - em qualquer lugar.

O Rio eh Samba, o Brasil eh Samba. A nossa História pode quase que ser ouvida no Samba.
Samba é a pureza da arte para mim.
Os grandes mestres do Samba tinham outras profissões e usavam a poesia e o ritmo
para expressar suas emoções.
Era uma necessidade natural, sem nenhum propósito. Eles não estavam preocupados
com dinheiro e não faziam musica visando o sucesso.
Ainda eh assim hoje em dia?
Sim, eu acredito que o Samba funciona como uma forma de auto-entendimento para os brasileiros, em todas as gerações .
Uma festa de familia sem musica ? Não da nem pra imaginar.

Animada para a Copa do Mundo?
Eu não assisto nenhum jogo dos times do Rio. Não sou fã.
Mas sou brasileira o suficiente pra torcer agora na Copa do mundo. E tanto em casa como no Rio inteiro, so vai existir esse assunto. Sobre todo o resto, falamos depois da Final.

Títulos & Fotos por Leo Aversa
Ilustrações : Ekaterina Koroleva
Entrevista : Silke Bender




*
 

Um comentário :

Anônimo disse...

Entrevista nota 10!

Silke Bender foi sem medo de ser feliz...