segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Zeca Camargo diz : "O que você quer saber de verdade. " A crítica.

As aves que aqui gorjeiam

E daí que parece com uma música da Jovem Guarda que inexplicavelmente ficou de fora do repertório da Ternurinha? “Depois”, a terceira faixa do novo álbum de Marisa Monte, é tão bonita e interpretada de maneiera tão sincera, que é melhor você estar com o coração bem forte para ouvi-la. E daí que “Hoje eu não saio não” é ligeiramente derivativa e calculadamente malandra (especialmente quando coloca uma letra que fala de baile funk em cima de um quase baião)? Quero ver você vir com um refrão mais fácil de ficar na sua cabeça. Ah, acha o corinho de “Ainda bem” ainda mais fácil e assimilável? Mas se incomoda com o cantarolar – que já é quase uma marca registrada da cantora? Não vejo nada demais – pelo contrario, até gosto. Se sua intenção é criticar “Verdade, uma ilusão” porque ela imita uma canção “como antigamente”, como se você aplicasse um filtro sépia numa foto que você tirou ontem à noite na balada – desista. A faixa é tão bem-feita  – no sentido de ser bem construída – que resiste até a esse comentário. Também achou “Amar alguém” fácil demais, só porque tem uma estrutura simples e uma letra para lá de convencional? Que mal há nisso, quando tudo que você quer é descobrir para quem você pode mandar essa música e recomeçar uma história? E se o seu problema for com “Lencinho branco”, bem… “Lencinho branco” é indefensável…
Mas fora isso, “O que você quer saber de verdade” é um ótimo álbum de Marisa Monte – parte “exatamente o que você já estava esperando”, parte “nossa, acho que eu nunca vi a Marisa cantando isso”! Ou será que você já ouviu e não se lembra? Será que isso importa? É pouco provável que “Saber de verdade” vá trazer uma nova legião de fãs à cantora que já se tornou mais que consagrada nas duas últimas décadas – dentro e fora do Brasil. Então por que exigir dela algo que talvez ela não esteja mais a fim de dar – uma guinada, uma nova vertente, uma ruptura? Sem culpa nem remorso, aparentemente guiada apenas pelo prazer de oferecer mais do que sabe fazer e melhor, ela embarca em um repertório que, com um certo tom de ironia, faz uma referencia involuntária à musica que, sem querer virou um de seus “standards”, “Não é proibido”.
Assim como as guloseimas dessa letra oferecem um cardápio variado de opções para a criançada (de todas as idades) se deleitar, no seu novo álbum Marisa vem com uma cornucópia de opções musicais prontas para agradar a todos os gostos. Variações do que ela já fez, sem dúvida. Mas dificilmente você diria que é sobre um mesmo tema.
Estou dando voltas aqui em cima do assunto e você talvez esteja se perguntando: mas o Zeca gostou ou não do novo trabalho? Muito justo, uma vez que – reconheço – alguns elogios que fiz acima podem ser interpretados de mais de uma maneira. Mas o que eu quero colocar, mais do que um simples “curti” (ou não), fácil de ser retwittado com um ou dois cliques, é que a minha opinião – ou mesmo a sua – sobre “O que você quer saber de verdade” é totalmente irrelevante. Não que nossas opiniões não contem nada. Mas é que Marisa está, a essa altura, num patamar de onde ela pode fazer o que bem entender, com a segurança de que sua imagem, sua carreira, e mesmo sua consagração são intocáveis. Talvez – novamente, talvez – este não seja o melhor disco que ela já gravou. Mas quem disse que eu não vou ouvi-lo à exaustão tentando sempre reencontrar a Marisa que já me tirou do sério várias vezes?
A primeira delas, claro – como já contei no meu livro “De a-ha a U2” (onde eu, entre tantas entrevistas, recupero uma que fiz com ela no início dos anos 90, que está entre um dos meus encontros mais felizes com os artistas que eu admiro) –, foi quando a vi cantar junto com uma banda chamada Nouvelle Cousine, no auditório do MASP (São Paulo), no final dos anos 80. Como acho que até já relembrei em algum canto deste blog, Marisa era apenas convidada para um dueto (“Bess, you is my woman now”), e simplesmente roubou a noite – me lembro até da intensidade com que eu batia palmas… Mas essa não foi a única vez que me deslumbrei com aquela voz… A cada disco, e a cada show, eu sempre encontrei um motivo par descobrir um novo aspecto do seu talento. Para lembrar de mais um desses momentos, cito aqui um show que fui ver em meados dos anos 90 e que me deixou tão enlouquecido que voltei correndo para a redação do jornal em que eu trabalhava na época (“Folha de S.Paulo”) só para escrever uma resenha que começava assim: “Eu quero morar no país que Marisa Monte canta”… E tem ainda uma memória recente, no teatro Rival, ali na Cinelândia, Rio de Janeiro, quando fui às lágrimas enquanto ela cantava, junto com Adriana Calcanhoto, a belíssima “Beijo sem” (da autoria de Calcanhoto) – “Madrugada, sou da lira, manhãzinha, de ninguém”… Que coisa mais linda…
A lista poderia ser maior, mas não quero alugar você com tantas lembranças – até porque eu tenho certeza de que você também tem as suas (se é mesmo um fã, ou uma fã, de Marisa que está lendo isso). O que importa é que ela, na sua carreira, criou para nós todos uma doce armadilha: como se ela fosse capaz de nos desafiar dizendo, eu cantei para você esse tempo todo e fiz você feliz – agora deixa eu cantar para mim… E mesmo esse desafio – se é que ele existe, mesmo que num nível subjetivo – não é verdadeiramente uma negociação. Aceite que você é seu refém e pronto! O conjunto de músicas que “O que você quer saber de verdade” traz não é nada além do que um punhado de canções que Marisa resolveu cantar agora – sons que tiveram a felicidade de encontrar sua voz nessa temporada. Um encontro, aliás, que de tão perfeito, é evocado inclusive no título de uma das mais belas faixas do álbum: “Era óbvio”!

Fonte - G1

14 comentários :

Renata Porto disse...

Eu tb tive o prazer de vê-la cantando com a Adriana no Rival. Lindo, lindo...

LINO MOURAIS disse...

Parabéns, Zeca! Era de se esperar,é e continuará sendo um gentleman, pra quem não sabe ele é assumidamente FÃ de Marisa e não poderia esperar uma crítica diferente. Percebi que ele ainda está degustando as novas delícias musicais de Marisa, criticou sem ser agressivo ou arrogante, ele sabe escrever...Enfim, se for preciso direi todos os dias aqui, PARABÉNS MARISA POR NOS BRINDAR COM UM CD MANEIRÍSSIMO, BEM FEITO E CHEIO DE AMOR. Beijos.

Romulo Viana disse...

Zeca Camargo vc acaba de ganhar mais um FÃ!

Fernando Oliveira disse...

Fica evidente o quão fã(assim como todos aqui)ele é né!

Bjos,Van

Danilo disse...

Engraçado que lencinho branco é uma das minhas preferidas, principalmente pelo arranjo incrível e a forma com que ela vai crescendo do meio pro fim.

Camila Rennó disse...

como é bom ler críticas adoravel sobre ela, a fineza de Zeca Camarco ao redigir essa crítica, ele é um fã..

Rodrigo Correa disse...

"Era óbvio" que o Zeca iria escrever um depoimento tão emocionado, visto que ele é um dos fãs mais ardorosos da Marisa, arrepiei-me em alguns trechos. Já aceitei que sou refém dessa voz, dessa interpretação, dessa emoção transmitida tão generosamente por MM.

Gleidson disse...

Que lindo texto!

Adriana disse...

Também penso como Zeca, a Marisa já cantou tanto para nós. Porque afinal ela não tem o direito depois de todos esses anos cantar pra ela mesma e ainda por cima compartilhar conosco tudo isso? Adoro todas as canções desse novo trabalho, meu maior sonho é um dia poder ir no show dela...

Joyce disse...

Lindas palavras do Zeca. Fiquei arrepiada com o que li, pois em muitas frases, me vi. Uma fã incondicional.

Anônimo disse...

Muito bem Zeca Camargo. Sábias palavras. Foi encima. Marisa Monte é uma cantora que faz a diferença. Merece todos os nossos elogios e reconhecimento por seu grande talento,voz,beleza.

Anônimo disse...

Como sempre um bajulador, que não consegue ver que é preciso ser inventivo para continuar a ser reverenciado!!

A bixa como ela é disse...

Zeca tem razão em muitas coisas. Floreou, floreou, floreou e falou muitas verdades a respeito da Marisa.

Mas, se tirarmos as flores, vamos ver que ela tem o pior álbum da sua carreira, verdade seja dita!

Ela É uma excelente cantora. Ela É intocável. Ela É incrivelmente capaz, mas tem um álbum muito ruim nas mãos. Simples assim.

Anônimo disse...

Pois é Zeca, ela chegou em um patamar onde pode fazer o que quiser, mas e os fãs que esperam inovação ?

Eu cheguei num patamar que não aguenta mais essa sonoridade que tenta se manter apoiada ao nome Marisa Monte.