A música está entre as
verdades de Marisa Monte, que aos 49 anos, 29 dos quais dedicados à arte, é
considerada a cantora brasileira mais importante ainda viva, segundo a edição
brasileira da Revista Rolling Stone.
— Estou a serviço dela. E
faço tudo por ela, a música — diz.
Depois de três anos, ela
volta a Florianópolis e dessa vez para um show essencial: sem cenário, nada de
projeções ou grande banda. Apenas a cantora, três companheiros de palco, os
amigos Dadi Carvalho, Marcelo Costa e Pedro Baby e a protagonista: a canção..
Em sintonia com o
recém-lançado álbum Coleção,
ela revisita a própria história e apresenta repertório de 20 músicas que foram
sucesso em diferentes fases da carreira. Em entrevista por telefone, a artista
falou do novo projeto e da alegria de poder voltar à cidade que carinhosamente
chama de Floripa. Confira os principais trechos da conversa:
Coleção de canções: o show
e o disco
Tanto o
disco quanto o show são projetos de entressafra. O disco é uma coleção de
canções que estão fora da minha obra, mas que são importantes pra mim. Nesses
anos todos gravei mais de 30 músicas com outras pessoas, projetos por
encomenda, convites, trilhas de filme. Fiz um apanhado das que eu achava que
juntas podiam criar uma nova narrativa. E aí fiz esse álbum, Coleção [é
o derradeiro álbum do contrato com a Universal]. Nesse meio tempo, acabou a
turnê grande de Verdade Uma Ilusão e tinham sempre convites para tocar em
lugares que nunca tinha ido, muito em função de logística e tamanho dos
espaços. Esse é um show pequeno, só com quatro amigos, despojado, sem cenário.
E estamos indo para Floripa, o que é uma felicidade, porque não faço show aí há
muito tempo.
Show é menor, porém
essencial
Não é
um show mais intimista que os outros. É mais essencial, tem o que realmente não
pode faltar: uma banda, os
instrumentos e a alma. O resto a gente vive sem [risos]. É mais conciso. Embora
não tenha cenários, projeções e tudo que potencialize a comunicação, funciona
bem, porque é essa comunicação que tem que existir nas canções.
Mergulho na história
O disco e esse que chamo
de ¿show de férias¿ têm em comum um mergulho na minha história. Ambos os
projetos têm um olhar retrospectivo, um apanhado que reflete várias épocas da
minha carreira. São como dois catálogos, sabe? Tipo um ¿the best of?¿.
Primeiro tive que ouvir
tudo. Foi interessante o trabalho de pesquisa. Muitas coisas estavam só em
fitas e tive que digitalizar. Umas duas ou três músicas foram remixadas, por
motivos diferentes. O Alta
Noite, do Arnaldo Antunes, ele mesmo me pediu, ¿Ah, remixa. Acho que pode
ficar melhor.¿
E o show, bem, eu já tenho
muitas músicas gravadas. Sei lá, umas 200. Tive que reduzir ao universo de
apenas 20 canções. E tem sempre alguma coisa nova que surge. É tudo mais leve e
fácil quando é só a banda, sem estar preso ao projeto visual. Tem repertório
grande ensaiado e a gente vai mudando de show a show. De vez em quando entra Pale
Blue Eyes, do Lou Reed.
Gravadora para quê?
Hoje em dia os parceiros
são outros. Não faz mais sentido ter uma gravadora, elas ainda não se
transformaram, estão atrasadas. Existem novos parceiros mais interessantes do
que eles. A Universal distribui digitalmente em todas as plataformas, mas o
problema é que eles não têm sistema, não são empresas de tecnologia, são de
música. Perderam muito tempo lutando contra a pirataria, tentando evitar que as
pessoas compartilhassem as músicas. Agora acho que estão cientes de que o
streaming e o digital é o que faz sentido.
Me parece, finalmente,
muito mais definido o formato que as pessoas vão consumir música, que é através
de seus equipamentos pessoais. A música não é um produto, as pessoas não
compram, mas acessam um serviço que dê a elas a possibilidade de ouvir.
Obviamente a tecnologia veio antes da regulamentação. Estamos começando a ter
novos parceiros, especializados na distribuição digital, que fazem prestação de
contas mais transparente
Marisa em singles
Eu
estou sempre compondo. Sou muito produtiva. Estou cheia de música nova e daqui
a pouco vou começar a botar no mundo. No mundo digital parece não fazer tanto
sentido a obrigação de lançar álbum, que é uma herança do formato físico, de
quando a gente lançava um LP, com 12 músicas. Mas antes de existir o LP,
existia o 78 rotações, quando as pessoas lançavam de duas em duas músicas,
várias vezes por ano. Carmem Miranda, Orlando Silva, essas pessoas gravavam o
tempo todo, isso nos anos 1930 e 40. Só faz sentido fazer um álbum quando for
um álbum, por exemplo, um disco ao vivo. Outras canções poderão vir soltas. Em
ritmos diferentes de fruição e criação. E acho isso bom.
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