terça-feira, 25 de outubro de 2016

Marisa Monte - " Estou cheia de músicas novas para jogar no mundo.

A música está entre as verdades de Marisa Monte, que aos 49 anos, 29 dos quais dedicados à arte, é considerada a cantora brasileira mais importante ainda viva, segundo a edição brasileira da Revista Rolling Stone.
— Estou a serviço dela. E faço tudo por ela, a música — diz.
Depois de três anos, ela volta a Florianópolis e dessa vez para um show essencial: sem cenário, nada de projeções ou grande banda. Apenas a cantora, três companheiros de palco, os amigos Dadi Carvalho, Marcelo Costa e Pedro Baby e a protagonista: a canção..

Em sintonia com o recém-lançado álbum Coleção, ela revisita a própria história e apresenta repertório de 20 músicas que foram sucesso em diferentes fases da carreira. Em entrevista por telefone, a artista falou do novo projeto e da alegria de poder voltar à cidade que carinhosamente chama de Floripa. Confira os principais trechos da conversa:
Coleção de canções: o show e o disco

Tanto o disco quanto o show são projetos de entressafra. O disco é uma coleção de canções que estão fora da minha obra, mas que são importantes pra mim. Nesses anos todos gravei mais de 30 músicas com outras pessoas, projetos por encomenda, convites, trilhas de filme. Fiz um apanhado das que eu achava que juntas podiam criar uma nova narrativa. E aí fiz esse álbum, Coleção [é o derradeiro álbum do contrato com a Universal]. Nesse meio tempo, acabou a turnê grande de Verdade Uma Ilusão e tinham sempre convites para tocar em lugares que nunca tinha ido, muito em função de logística e tamanho dos espaços. Esse é um show pequeno, só com quatro amigos, despojado, sem cenário. E estamos indo para Floripa, o que é uma felicidade, porque não faço show aí há muito tempo.
Show é menor, porém essencial

Não é um show mais intimista que os outros. É mais essencial, tem o que realmente não
pode faltar: uma banda, os instrumentos e a alma. O resto a gente vive sem [risos]. É mais conciso. Embora não tenha cenários, projeções e tudo que potencialize a comunicação, funciona bem, porque é essa comunicação que tem que existir nas canções.



Mergulho na história
O disco e esse que chamo de ¿show de férias¿ têm em comum um mergulho na minha história. Ambos os projetos têm um olhar retrospectivo, um apanhado que reflete várias épocas da minha carreira. São como dois catálogos, sabe? Tipo um ¿the best of?¿.
Primeiro tive que ouvir tudo. Foi interessante o trabalho de pesquisa. Muitas coisas estavam só em fitas e tive que digitalizar. Umas duas ou três músicas foram remixadas, por motivos diferentes. O Alta Noite, do Arnaldo Antunes, ele mesmo me pediu, ¿Ah, remixa. Acho que pode ficar melhor.¿

E o show, bem, eu já tenho muitas músicas gravadas. Sei lá, umas 200. Tive que reduzir ao universo de apenas 20 canções. E tem sempre alguma coisa nova que surge. É tudo mais leve e fácil quando é só a banda, sem estar preso ao projeto visual. Tem repertório grande ensaiado e a gente vai mudando de show a show. De vez em quando entra Pale Blue Eyes, do Lou Reed.



Gravadora para quê?
Hoje em dia os parceiros são outros. Não faz mais sentido ter uma gravadora, elas ainda não se transformaram, estão atrasadas. Existem novos parceiros mais interessantes do que eles. A Universal distribui digitalmente em todas as plataformas, mas o problema é que eles não têm sistema, não são empresas de tecnologia, são de música. Perderam muito tempo lutando contra a pirataria, tentando evitar que as pessoas compartilhassem as músicas. Agora acho que estão cientes de que o streaming e o digital é o que faz sentido.

Me parece, finalmente, muito mais definido o formato que as pessoas vão consumir música, que é através de seus equipamentos pessoais. A música não é um produto, as pessoas não compram, mas acessam um serviço que dê a elas a possibilidade de ouvir. Obviamente a tecnologia veio antes da regulamentação. Estamos começando a ter novos parceiros, especializados na distribuição digital, que fazem prestação de contas mais transparente
Marisa em singles

Eu estou sempre compondo. Sou muito produtiva. Estou cheia de música nova e daqui a pouco vou começar a botar no mundo. No mundo digital parece não fazer tanto sentido a obrigação de lançar álbum, que é uma herança do formato físico, de quando a gente lançava um LP, com 12 músicas.  Mas antes de existir o LP, existia o 78 rotações, quando as pessoas lançavam de duas em duas músicas, várias vezes por ano. Carmem Miranda, Orlando Silva, essas pessoas gravavam o tempo todo, isso nos anos 1930 e 40. Só faz sentido fazer um álbum quando for um álbum, por exemplo, um disco ao vivo. Outras canções poderão vir soltas. Em ritmos diferentes de fruição e criação. E acho isso bom.


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